09
Ago 09
publicado por aquiagorasempre, às 14:19link do post | comentar | ver comentários (8)
          se
                                           nasce
                                           morre   nasce
                                           morre   nasce    morre
                                                                               renasce   remorre   renasce
                                                                                                remorre   renasce
                                                                                                                  remorre
                                                                                                                              re
                                                                   re
                                                      desnasce
                                  desmorre   desnasce
              desmorre   desnasce   desmorre
                                                                           nascemorrenasce
                                                                           morrenasce
                                                                           morre
                                                                           se

26
Jul 09
publicado por aquiagorasempre, às 14:29link do post | comentar | ver comentários (11)



ROMANCE

Para as Festas da Agonia
Vi-te chegar, como havia
Sonhando já que chegasses:
Vinha teu vulto tão belo
Em teu cavalo amarelo,
Anjo meu, que, se me amasses,
Em teu cavalo eu partira
Sem saudade, pena, ou ira;
Teu cavalo, que amarraras
Ao tronco de minha glória
E pastava-me a memória
Feno de ouro, gramas raras.
Era tão cálido o peito
Angélico, onde meu leito
Me deixaste então fazer,
Que pude esquecer a cor
Dos olhos da Vida e a dor
Que o Sono vinha trazer.
Tão celeste foi a Festa,
Tão fino o Anjo, e a Besta
Onde montei tão serena,
Que posso, Damas, dizer-vos
E a vós, Senhores, tão servos
De outra Festa mais terrena
Não morri de mala sorte,
Morri de amor pela Morte.
(imagem daqui)

16
Jul 09
publicado por aquiagorasempre, às 09:09link do post | comentar | ver comentários (41)
Amo-te tanto,meu amor...não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.

Amo-te afim,de um calmo amor prestante
E te amo além,presente na saudade
Amo-te enfim com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.

Amo-te como um bicho,simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtudes
Com um desejo maciço e permanente.

E de ter amar assim,muitoe amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.

25
Jun 09
publicado por aquiagorasempre, às 08:35link do post | comentar | ver comentários (9)
Fez tanto luar que eu pensei nos teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos,
que tornei a viver contigo enquanto o tempo passava.


Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro,desde então,nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.


Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias fora do mundo...
-Os ares fogem,viram-se as águas,
mesmo as pedras,com o tempo,mudam.


(Cecilia Meireles)


14
Mai 09
publicado por aquiagorasempre, às 15:22link do post | comentar | ver comentários (6)
Se os nossos olhos te enxergassem,rosa,

E não só:"É uma rosa"nos dissessem

Na vulgar gradação que nunca esquecem,

Que epifania na manhã tediosa!


Se eles vissem ao vê-la,cada coisa

E não seu nome,se afinal pudessem

Fugir da furna abstrata onde destecem

A vida,um morto partiria a lousa


Maçiça de aqui estar.Flor,nuvem,muro,

Árvore,que é uma só e não tal nome,

Se tudo entrasse o corredor escuro


Que há em nós,algo de exato se ergueria

Algo que pára o tempo e o consome,

Que alveja a noite e entenebrece o dia.


(de "Em Sonho")

05
Mai 09
publicado por aquiagorasempre, às 14:13link do post | comentar | ver comentários (6)
Entre mim e mim,há vastidões bastantes
para a navegação dos meus desejos afligidos.

Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.
Cada lâmina arrisca um olhar,e investiga o elemento que a atinge.

Mas,nesta aventura do sonho exposto à correnteza,
só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.

Virei-me sobre a minha própria existência,e contemplei-a.
Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,
e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus,isto é a minha alma:
qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,
como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...

(Cecília Meireles)

11
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 12:02link do post | comentar | ver comentários (4)

E como eu palmilhasse vagamente

uma estrada de Minas,pedregosa,

e no fecho da tarde um sino rouco


se misturasse ao som de meus sapatos

que era pausado e seco;e aves pairassem

no céu de chumbo,e suas formas pretas


lentamente se fossem diluindo

na escuridão maior,vinda dos montes

e de meu próprio ser desenganado,


a máquina do mundo se entreabriu

para quem de a romper já se esquivava

e só de o ter pensado se carpia.


Abriu-se a majestosa e circunspecta,

sem emitir um som que fosse impuro

nem um clarão maior que o tolerável


pelas pupilas gastas na inspecção

contínua e dolorosa do deserto,

e pela mente exausta de mentar


toda uma realidade que transcende

a própria imagem sua debuxada

no rosto do mistério,nos abismos.


Abriu-se em calma pura,e convidando

quantos sentidos e intuições restavam

a quem de os ter suado os já perdera


e nem desejaria recobrá-los,

se em vão e para sempre repetimos

os mesmos sem roteiro tristes périplos,


convidando-os a todos,em coorte,

a se aplicarem sobre o pasto inédito

da natureza mística das coisas.


(Carlos Drummond de Andrade)

07
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 08:46link do post | comentar | ver comentários (2)
Não é o de Blake,em chamas
nem o que entreviu Borges
através das barras,talvez até
impressas no pêlo,temperando
o ouro do ataque e do remanso
interrompido pelas tiras de sombra
indo e vindo,entre o mel e a fera.
Mas o que sobrou na Ásia ou África
-fogueira sozinha se extinguindo
em sua fúria e instinto sem a mão
que contorne a ferocidade da garra
e do olhar extremo,ou a lembrança
do seu nobre metal aceso,sol aberto
mesmo dentro da cegueira,agora
cada vez mais riscado e escurecido
pelas linhas do grafite e do carvão.

03
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 09:00link do post | comentar

Clarice

Veio de um mistério,partiu para outro.

Ficamos sem saber a essência do mistério.

Ou o mistério não era essencial.Essencial

Era Clarice viajando nele.


Era Clarice bulindo no fundo mais fundo,

onde a palavra parece encontrar

sua razão de ser,e retratar o homem.


O que Clarice disse,o que Clarice

viveu para nós

em forma de história

em forma de sonho de história

em forma de sonho de sonho de história

(no meio havia uma barata ou um anjo?)

não sabemos repetir nem inventar.

São coisas,são jóias particulares de Clarice,

que usamos de empréstimos,ela é dona de tudo.


Clarice não foi um lugar -comum,

carteira de identidade,retrato.

De Chirico a pintou?Pois sim.

O mais puro retrato de Clarice

só se pode encontrá-lo atrás da nuvem

que o avião cortou,não se percebe mais.


De Clarice guardamos gestos.Gestos,

tentativas de Clarice sair de Clarice

para ser igual a nós todos

em cortesia,cuidados materiais.

Clarice não saiu,mesmo sorrindo.

Dentro dela

o que havia de salões,de escadarias,

de tetos fosforecentes e longas estepes

e zimbórios e pontes do Recife em bruma envoltas

formava um país,o país onde Clarice

vivia,só e ardente,construindo fábulas.


Não podíamos reter Clarice em nosso chão

salpicado de compromissos.Os papéis,

os cumprimentos falavam em agora

em edições,possíveis coquetéis

à beira do abismo.

Levitando acima do abismo Clarice riscava

em sulco rubro e cinza no ar e fascinava-nos.

Fascinava-nos apenas.

Deixamos para compreendê-la mais tarde.

Mais tarde um dia...saberemos amar Clarice.

(Carlos Drummond de Andrade)

31
Mar 09
publicado por aquiagorasempre, às 08:50link do post | comentar | ver comentários (3)
Sentia o cheiro
da chuva;
o grito dos pássaros,
a consistência dos musgos
antiqüíssimos.
Tentava entender a mecânica
das gotas ácidas
alinhadas,uma a uma,
o silêncio cinza das nuvens
onde o que restou do sol
pousava.
E o corpo sofria
feito ave sem asas:
de sede,se afogava.

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