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Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 12:02link do post | comentar | ver comentários (4)

E como eu palmilhasse vagamente

uma estrada de Minas,pedregosa,

e no fecho da tarde um sino rouco


se misturasse ao som de meus sapatos

que era pausado e seco;e aves pairassem

no céu de chumbo,e suas formas pretas


lentamente se fossem diluindo

na escuridão maior,vinda dos montes

e de meu próprio ser desenganado,


a máquina do mundo se entreabriu

para quem de a romper já se esquivava

e só de o ter pensado se carpia.


Abriu-se a majestosa e circunspecta,

sem emitir um som que fosse impuro

nem um clarão maior que o tolerável


pelas pupilas gastas na inspecção

contínua e dolorosa do deserto,

e pela mente exausta de mentar


toda uma realidade que transcende

a própria imagem sua debuxada

no rosto do mistério,nos abismos.


Abriu-se em calma pura,e convidando

quantos sentidos e intuições restavam

a quem de os ter suado os já perdera


e nem desejaria recobrá-los,

se em vão e para sempre repetimos

os mesmos sem roteiro tristes périplos,


convidando-os a todos,em coorte,

a se aplicarem sobre o pasto inédito

da natureza mística das coisas.


(Carlos Drummond de Andrade)

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