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Jul 09
publicado por aquiagorasempre, às 10:34link do post | comentar | ver comentários (16)
A Menor mulher do Mundo é um conto emblemático de Clarice Lispector.Através dele podemos como que acompanhar a estrutura da escrita clariceana.É mesmo verdade,acredito,que quando dizemos ´'O que seria da literatura brasileira sem Machado de Assis,Guimarães Rosa e Clarice Lispector,estamos mesmo nos remetendo à própria grandeza literária dessa trindade,que paira sobre a nossa literatura como uma espécie de 'entidade tutelar'.
Clarice,em sua literatura,nunca se preocupa com o realismo das situações-não há uma história,no sentido convencional;o que importa é a análise interior das personagens,o arcabouço interno dos seres.Existe um ausência de enredo tal qual conhecemos;os 'acontecimentos'são meros pretextos para a análise psicológica das personagens.E mais interessante ainda,a própria análise dos fenômemos sociais ocorre dentro da mente das personagens.A literatura de Clarice é uma leitura também da solidão do ser humano,do desentendimento,do conflito mental.Os 'mapas mentais'clariceanos e sua 'veredas'são os ecos de um outro sertão,que não tão longe daquele de Rosa,nos falam do que sentimos,do que mostramos e também do que escondemos.
Em "A Menor mulher do mundo",o 'enredo'é a estória de um explorador francês,Marcel Petre,que encontra,em meio aos pigmeus do Congo,a menor mulher do mundo.Nesse conto,Clarice nos mostra seu gênio,encadeando análise psicológica com análise social de maneira magistral.A menor mulher do mundo,em todos os contextos é 'o outro',o diferente,o do qual se tem medo.As metáforas exprimem tudo-"como uma caixa dentro de uma caixa","escura como um macaco","o sonso perigo da África".As reações da menor mulher e do explorador são muito parecidas-ambos se identificam/se estranham em suas diferenças.Clarice enfatiza o fascínio que exerce a menor mulher do mundo-"Nem os ensinamentos dos sábios da Índia são tão raros.Nem o homem mais rico do mundo já pôs os olhos sobre tanta estranha graça.Ali estava uma mulher que a gulodice do mais fino sonho jamais pudera imaginar".E começa a esmiuçat as reações à fotografia de' pequena flor' nos jornais.Uma mulher não quis olhar uma segunda vez"porque me dá aflição",outra sentiu tanta ternura que -"jamais se deveria deixar Pequena flor sozinha com a ternura da senhora.Quem sabe a que escuridão de amor pode chegar o carinho."Uma mãe diz à filha-"(...)é tristeza de bicho,não é tristeza humana',diz outra mulher.Assim Clarice vai analisando os mais cruéis dispositivos sociais de exclusão do outro,do diferente,com suas hipocrisias inerentes e aparentes,seus desprezos pela igualdade na diferença.Clarice maneja as metáforas dentro de um espelho de preconceito social de uma maneira impressionante(que iria levar às últimas consequências em "A hora da estrela"),enfatizando que além de um ser social,os seres humanos são 'seres emocionais'.E nesse conto cheio de metáforas surpreendentes,Clarice nos diz como pode ser perigoso o medo da diferença,e o quanto a diferença também pode ser interessante e enriquecedora ou como diz a velha no final-"pois olhe,eu só lhe digo uma coisa:Deus sabe o que faz...".

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