Ele avançou pelo corredor.Pelas pilastras entrava um vento frio.Era madrugada e seus passos ecoavam pelo edifício silencioso.Nessa hora em que se ouvem os mais tênues e subterrâneos barulhos,ele não escutava o trinado dos pássaros noturnos nas ramas das árvores.Não via o céu de azul pesado.Caminhava devagar,lendo maquinalmente o breviário,indo e voltando pelo corredor imenso.Estava cansado,e embora soubesse há muito tempo,não via rumo para a dor permanente que crescia mais e mais.Ela era a mesma sempre ;somente suas nuances mudavam com o passsar dos dias.Quando acordava todos os dias ,fitava o crucifixo na parede e a penumbra do quarto o confortava.Estar ali para ele era como estar em qualquer outro lugar;numa floresta escura,afogando-se lentamente num mar de folhas secas e úmidas,vozes distantes chamando ao longe.Há muitos anos se arrastava e viver era como tocar um harpa ou uma flauta:se o executor fosse ruim ,de nada adiantava.Dores sempre espreitavam numa porta aberta.
Quando tomava seu café no refeitório repleto e conversava com os outros e falava das aulas e do tempo e ai meu deus!de nada;um calafrio o percorria.Olhava as pessoas ao redor como se elas fossem o seu maior fardo.Os sorrisos,os tapinhas nas costas,as verdades que não eram bem verdades.As verdades que se escondiava nas frases vazias.Esse arrastar-se pelos dias era doloroso.Os dias passavam,luas novas,novos cardápios,e a dor inelutável :o horror mais horrivel por ser invisível e sinuoso.
O fracasso,ou o que chamavam fracasso,não o incomodava absolutamente.Os vitoriosos e os fracassados,todos tiveram seus dias de nunca mais,suas manhãs no colégio,com o sol brilhando e os amigos os cercando.Queria mais era gritar para todo mundo da enorme impossibilidade que fora sua vida.Ah os pacientes,os que choram à noite no escuro,passam a mão pela parede fria e sabem que tudo ,de certa forma,não é real,e aspiram a um outro lado qualquer,ao grande labirinto.