publicado por aquiagorasempre, às 18:01link do post | comentar

Something

Whose dwelling is the light of setting suns,

And the round ocean,and the living air,

And the blue sky,and in the mind of man;-

A motion and a spirit,which impels

All thinking things,all objects of all thought,

and rolls through all things.


Algo

Que habita a luz de sóis poentes,

E o oceano redondo,e o ar vivo,

E o céu azul,e a mente do homem;-

Um movimento e um espírito,que impele

Todas as coisas pensantes,todos os objetos de todo o pensamento,

E atravessa todas as coisas.

(William Wordsworth-traduçao de Luiz Carlos do Nascimento Silva)


publicado por aquiagorasempre, às 15:23link do post | comentar
Daiane saiu às sete horas.A rua,quente e seca,estava vazia.Insetos zumbiam pelo ar.Caminhava devagar,pisando firme a calçada irregular.E ter que ver Luis de novo,meu Deus!Tudo novamente:a discussão inevitável,a hesitação que a enfurecia,as palavras trocadas em jatos.Como tudo isso a entediava,a lançava num desespero frio.E se as pessoas ao invés de viverem na sofreguidão aparentemente eterna de suas vidas,encontrassem aquele atalho que tanto queriam?
O pulsar frenético de sua vida a cansava.Queria um pouco de dormência,de lassidão.A indolência consentida,os tumultos apagados.No cruzamento com avenida apareceram pessoas:a velha apressada,com uma echarpe enrolada no pescoço,maquiadíssima(o que estaria fazendo ali?),grupos de adolescentes uniformizados,o mendigo habitual da esquina,as mãos sujíssimas,ao lado da caixa -casa de papelão que se desfazia já.E estava indo se encontrar com Luís.Deveria mesmo ter esperado pelos sinos que começavam a tocar em seus ouvidos.Não tinha nenhuma esperança de compreender qualquer sentimento.Sua mente,que não era dessas chamadas inescrutáveis ou poderosas,simplesmente oscilava entre o desprazer do corriqueiro,as cinzas das horas.Não devia esperar nada de Luís que não fosse o reflexo de seu próprio egoísmo,o confronto de vontades refletidas num espelho.
Parou no ponto de ônibus lotado.Mulheres com ar entediado carregavam sacolas de plástico,e ela,pronta para um desenlace qualquer.Poderia cortar então seus fios desconexos com o homem com quem vivera por tantos anos.Mas além de desconexos,esses fios tão finos e filigranados,lentamente se arrebentavam,tão degradados estavam.

(James Penido)

publicado por aquiagorasempre, às 14:54link do post | comentar
Talvez Virginia
(Jim Anotsu 15 / 09 / 2008)

Jenny e Virginia são garotas anacrônicas,
ficam belas de rosa,mas consideram preto substancialmente melhor.
As garotas nem sempre fazem as coisas certas,mas quando cometem as erradas,
isso é acidentalmente de propósito.

Oh,não!, Jenny; fizemos isso de novo,
com toda a certeza deveríamos nos envergonhar,
e não nos sentirmos tão bem.
É meio tragicômico; uma dramédia para ser sincera,
isso que chamamos de cotidiano trivial.

Um dia tão triste; espero que concorde; e está na minha mão. - somente
porque assim você o quer, senhorita! - Você já sabia da verdade antes mesmo
de vir. - Você precisa ser tão mal humorada ?! - É necessário ser tão desagradável,
ò minha querida ?

Perfumes com cheiro de jasmim;
devemos admitir que são bons nessa época do ano.
Sim, sei disso muito bem, fui eu quem lhe contou.
Não importa o que você diga,
ele sempre me dará o que mereço.
Precisamos de uma solução,
os lençóis estão rasgados!

Espero que se lembre, Virginia,da primeira vez em que nos separamos,
e tivemos que dividir as nossas coisas: o céu, o mar, as estrelas e tudo mais,
não quero passar por isso novamente.
Pelo que me lembro você ficou com o vermelho, que absolutamente é uma cor legal,
e só me sobrou o roxo, que para dizer a verdade é bem cafona!

Um dia muito bom, esse dia de hoje, mui melhor que essa ilusão de amanhã.
Ora, ora, ora; não ria, minha amada! Venha aqui. Dá-me um beijo de boa noite.
O céu está caindo, Adeus, vamos lá, somos imunes à gravidade.

Mas não é necessário nos sobressaltarmos, um chá é sempre e sempre uma boa trégua,
principalmente para duas velhas bicicletas como nós.
Acordem!, hoje é o resto de suas vidas...

30
Jan 09
publicado por aquiagorasempre, às 23:40link do post | comentar
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publicado por aquiagorasempre, às 11:56link do post | comentar
Já era tarde
e cansaram-se as três de esperar.
Entraram,deixando o jardim ,
seco e escuro na noite.
Uma,enxugava os olhos,
outra,esfalfada,caindo no sofá
a última,trêmula,crispando as mãos

De esperar
juraram que jamais se cansariam.
Mas o jardim já agonizava,
a pintura da casa desaparecia
os móveis apodreciam,
tudo se desmanchava
lentamente


Um dia,uma olhou para as outras e disse
que não esperaria mais
porque se cansara e nada mais fazia sentido;
não havia solução.

Ainda ontem estavam lá no jardim,
de negro as duas,abismadas em esperar.
Pombos faziam ninhos no telhado.
O céu era de um azul intenso e ventava.

(James Penido)

29
Jan 09
publicado por aquiagorasempre, às 13:03link do post | comentar | ver comentários (1)

publicado por aquiagorasempre, às 09:23link do post | comentar



O garoto que está estirado numa esteira,em um desses apocalípticos campos de refugiados do Sudão,há um bom tempo já quase não se move.A mãe,esquelética,apática,está deitada a seu lado,os olhos enormes e vazios,os seios murchos.Na vila-favela-acampamento ,uma multidão circula.Há cabanas de pau-a -pique,choças de palha,mas a maioria se estende pelo chão mesmo,num burburinho indistinto,em meio ao calor e aos insetos.Inacreditáveis(por deixarem o conforto da "boa " Europa) profissionais do "Medicos sem Fronteiras"circulam em meio às pessoas,olhando um e outro,fazendo o que podem em meio ao caos.È isso mesmo,a velha palavra:o horror,à la Joseph Conrad via Apocalipse now ate o REAL.



De repente,um ronco de motor.Um avião da cruz vermelha sobrevoa o acampamento.O menino e a mãe viram-se na direção do ruído que deve retumbar em seus ouvidos.A enorme cruz de um vermelho berrante pintada no bojo da aeronave significa uma coisa só :possibilidade de comer,e infundir um mínimo de força em corpos exaustos,inanimados,em mentes estáticas e olhos que já viram o inimaginável.Paraquedas soltam caixas de leite em pó,biscoitos,latas de sardinha;presentinhos do ocidente apiedado e nauseado.


Na idade média,o imaginário ocidental era repleto do horror da vinda do "anticristo",para a formação do "império do mal".As constantes epidemias de peste,a fome crônica,a opressão constante e sistemática dos"poderosos",em nada diferem do que grande parte da Africa têm como cotidiano ,,diante do desinteresse,da apatia da Europa,que hoje,imersa na inércia do consumismo e do mercado total(que parece estar agora desmoronando),simplesmente se atem à rétorica estéril e meia dúzia de passeatas de bem intencionados.


Até o fim do século 18,a miséria e a opressão política e religiosa deram o tom na Europa.As cenas goyescas de um desses manuscritos medievais sobre a peste e a fome são assim:filmes modernos.Um parágrafo qualquer do New York Times ou do Le Monde ,documentários escandalizados de estudantes de Oxford,teses de doutoramento da Sorbonne,tours de celebridades a campos de refugiados,enquanto tiram fotos ,afagam bebês,e correm para tomar o avião de volta.Oh my God!É,o infeno pode ser mesmo aqui.Todos os dias lemos reportagens sobre a miséria da África,horrorizados assistimos ao desfilar dos quase-mortos no jornal da noite,Mas dentro de qual filme essas pessoas realmente se situam?O garoto continua deitado na esteira.E a câmera,em rápidos volteios,mostra as caixas de leite em pó,a lama desses absurdos campos.


Estamos cansados de saber de tudo isso.O ocidente precisa abandonar a retórica,a ganância obscena em que está atolado.Bondade e espiritualidade nada têm a ver com acreditar ou não em deus.É preciso aproveitar esse momento caótico (que acho,mal começamos a viver),para mudar o rumo da nossa espécie,como seres em si,pensar no que queremos realmente nos transformar no futuro.

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