29
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 21:22link do post | comentar | ver comentários (43)
Há muitos grandes filmes em nossas vidas,mas às vezes,assistimos aquele filme que de muitas maneiras mexe com nossa sensibilidade,que de alguma forma muda nossa percepção de algumas coisas,que desperta em nós uma reflexão,que literalmente,toca nosso coração.

Escolhi como o filme da minha vida,'As Horas',do diretor inglês Stephen Daldry.As razões,são todas essas de que já falei,e também por esse filme tratar de questões como a maneira que vivemos nossas vidas,a presença onipresente da morte no mundo,como conciliar nossos desejos com a realidade que nos circunda,enfim,como nos situarmos num mundo,numa realidade que às vezes parece fugir de nós.

'As horas' é baseado no grande romance do americano Michael Cunningham,que venceu com ele o prestigiado Prêmio Pulitzer de melhor romance.

A história trata de um dia na vida de três mulheres aparentemente muito diferentes entre si,mas vivendo dilemas e angústias muito parecidas.Apesar de separadas pelo tempo e pelo espaço,todas vivem um momento de angústia,de decisões a serem tomadas,que abrangem aspectos essenciais de suas vidas.

Laura Brown(julianne Moore) é uma dona de casa intelectualizada e sonhadora,totalmente inadaptada à vida que leva com o marido e o filho num próspero subúrbio da Califórnia de 1951,sufocando em meio ao convencionalismo de seu meio.Clarissa Vaughan(Meryl Streep) é uma editora de meia idade na Nova York do final do século passado,que tem que lidar com a iminente morte de seu ex-namorado soropositivo,com a rejeição da filha adolescente e com sua sensação de fracasso,que verdadeira ou não,a obseca.E por fim há a grande escritora inglesa Virginia Woolf(Nicole Kidman),que vivendo no subúrbio londrino de Richmond em 1923,tenta viver mais um dia com seu medo da loucura que a atormenta desde a adolescência,com suas crises intermitentes,com sua vontade de voltar para Londres,para seus amigos;enquanto escreve sua obra prima,o romance 'Mrs Dalloway'.

E é justamente 'Mrs Dalloway' que faz a ponte entre estas três mulheres que buscam um sentido da vida que lhes escapa.

Estão presentes no filme todos os dilemas existenciais que nos fazem refletir,tentar achar alguma resposta para o aparente caos do mundo:a vida,que de certa forma é só o momento presente(o passar das horas),a poderosa presença da morte(que nos causa medo e horror,mas que também nos define como seres humanos),a verdade e as contradições do amor,da amizade,dos laços de carinho que criamos com quem amamos,a maternidade,o horror e a beleza do mundo,a loucura,os pequenos detalhes que fazem,que compõem nossas vidas,e acima de tudo,a dificuldade metafísica de explicar o rolar do tempo,o passar contínuo das horas(as horas são tudo que realmente vivemos).

O filme tem uma direção de atores poderosa,com destaque para o trio de atrizes principais.A sempre impressionante Meryl Streep(para mim a maior atriz viva),faz uma Clarissa perdida,que acha que tudo que de bom que a vida lhe deu está desaparecendo sem que ela possa fazer nada para impedir.A interpretação de Meryl é sutil,marcando os pequenos detalhes da vida com a precisão de falas e gestos.Julianne Moore está magnífica,toda tensão e auto-piedade,refletidas no rosto e no corpo.E Nicole Kidman como Virginia Woolf,nos passa toda a gama de sentimentos ambíguos da escritora,sem cair por um só momento na caricatura.Nicole ganhou muito merecidamente o Oscar de melhor atriz por esse filme.

Enfim um grande filme sobre a vida e seus dilemas ,que também são os de todos nós.

Pela impressão duradoura que me causou,pela reflexão que me despertou e também pelo grande prazer de assisti-lo,é o filme da minha vida.


27
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 08:54link do post | comentar | ver comentários (6)
Depois do fragor da tempestade,a água subiu.Agarrada a Peri,no tronco da palmeira à deriva,ela viu o céu transmutar-se de azul muito escuro em um negro de fumaça.Relâmpagos amarelo-alaranjados cruzavam o poente em toda as direcões.O barulho dos trovões,ela pensou,nunca acabaria.Peri a segurava com força,seus braços enormes a amparando.Esgotada,abandonou-se,não mais ao pavor e ao medo da morte,mas à estranha situação que vivia.Deitada sobre o tronco da palmeira,tinha a sensação que a qualquer momento iria ao fundo,e tudo finalmente terminaria.O mundo agora era só água,e aquele céu escuro e iluminado a cada segundo.E todos de sua casa certamente estavam mortos:seu pai,sua mãe,Álvaro,Isabel.Massacrados a flechas;seus pobres corpos desfigurados imóveis sobre a terra molhada,seus olhos esbugalhados,os cabelos sujos de sangue e lama.Sentiu sua garganta travar e seus olhos encheram-se de lágrimas.As lágrimas que ninguém nunca mais veria.Via flores que boiavam na água,maravilhosamente azuis e vermelhas,salpicadas de gotículas escuras,levadas para longe,longe.Não me leve,não me leve,murmurou baixinho.Peri não parecia esgotado.Como um ser divino,um homem de um outro lugar que não aquele a olhava com o mesmo olhar de devoção e doçura.
Tão fraca estava,tão molhada,tão esgotada,que já não não lhe doía mais o corpo.Seu vestido encharcado não a incomodava mais.O medo a deixava,finalmente.A cada momento pensava ser o fim.Até quando ele vai suportar?Quando por fim,mesmo em um esforço magistral,seus braços não o obedecessem mais?
Marés se erguiam pela terra inundada.Soltou um leve grito.era assim então.

26
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 21:39link do post | comentar | ver comentários (6)

Considerada por muitos a melhor telenovela brasileira

de todos os tempos.(apesar de concorrentes como 'Vale Tudo','Roque Santeiro','Que Rei sou eu?'ou 'O Clone'),A Escrava Isaura ,de um tempo pré-internet,tinha audiências de 85-90%,vistas hoje como absurdas.Seu último capítulo superou 90%.Vista no mundo inteiro,é um exemplo da perícia brasileira na área das telenovelas.Lembram-se dela,alguns de vocês?


25
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 08:40link do post | comentar | ver comentários (8)

Ela saiu às oito horas.A rua,quente e seca,ainda estava vazia.Insetos zumbiam pelo ar.Caminhava devagar,pisando firme a calçada irregular.E ter que ir ver Luís de novo,meu Deus!

Tudo novamente:a discussão inevitável,a hesitação que a enfurecia,as palavras trocadas em jatos.Como tudo isso a entediava.E se as pessoas ao invés de viverem na sofreguidão aparentemente eterna de suas vidas,parassem e sentassem num banco de jardim,para ter como única companhia a si mesmo?O pulsar frenético de sua vida a fazia sentir-se cansada.Queria um pouco de dormência,de lassidão.A indolência consentida,os tumultos apagados.

No cruzamento com a avenida apareceram pessoas.Crianças e adolescentes a caminho da escola;a velha apressada com uma echarpe ondulante enrolada no pescoço,maquiadíssima(o que estaria fazendo ali?);o mendigo habitual da esquina com suas mãos sujíssimas e o cachorro amarelo de olhos calmos,sentado ao lado de uma caixa de papelão.

E se estava indo se encontrar com Luís,deveria mesmo esperar pelos sinos que começavam a retumbar em seus ouvidos.Não tinha nenhuma esperança de compreender qualquer sentimento.Sua mente,que não era dessas chamadas poderosas ou inescrutáveis,simplesmente oscilava entre o desprazer do corriqueiro.Não deveria esperar nada de Luís,que não fosse o reflexo de seu próprio egoísmo,o confronto de vontades refletidas em um espelho.

Parou no ponto de ônibus lotado.O calor já estremecia tudo.Mulheres com ar entediado carregavam sacolas de compras e ela,pronta para um desenlace qualquer.

Poderia cortar agora mesmo seus fios desconexos com o homem com quem vivera por tantos anos.Mas além de desconexos,esses fios tão finos e filigranados,lentamente se arrebentavam,tão degradados estavam.E parada ali,ela sofria,por todas as possibilidades e impossibilidades de sua vida.O ônibus chegou.Entrou.E assim foi ao encontro de algo que não conhecia.

23
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 08:34link do post | comentar | ver comentários (11)


O ministro Joaquim Barbosa diz o que muita gente sempre teve vontade de dizer e não podia.Bravo,Ministro!

22
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 09:43link do post | comentar | ver comentários (2)

21
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 09:33link do post | comentar | ver comentários (6)














































































Vik Muniz é o primeiro artista brasileiro a ter uma exposição exclusiva no Moma em Nova York.Sua exposição no Rio de Janeiro tem recordes de público,e suas obras vendem,e muito.É incrível,que o artista plástico nascido em São Paulo e radicado em Nova York,seja desdenhado por boa parte da crítica como 'artista popular'.Eu me pergunto se um artista deve ser conhecido e apreciado apenas por um círculo restrito,e se suas obras devem ser fechadas em seu sentido,não abertas à interpretação de qualquer pessoa.A arte existe para ser um mediação entre nós e o mundo,para ser um espelho deste mesmo mundo;não um espelho de refração,mas composto de diversos compartimentos de interpretação.A arte de Vik Muniz é uma vitória frente à 'arte' cínica de um Damien Hirsch,é uma arte que celebra a própria arte e a vida ,com todos os seus elementos sublimes ou deprimentes.Sua releitura de Goya(Saturno devorando seus filhos)em meio ao lixo,seus retratos feitos de açúcar candi,seu retratos de divas como Marilyn Monroe ou Bette Davis,atletas como Pelé ou Cristiano Ronaldo,suas interpretações do mundo social,são uma vitória frente a mercantilismo cada vez maior no mundo da arte,onde vanguarda tornou-se sinônimo de engodo e apelação.O uso que Vik faz de chocolate,terra,creme de amendoim,sucata ,peças de quebra cabeça,açúcar,linha,corda,entre outros,mostra sua maestria em criar dentro de um contexto em que o material ao mesmo tempo interpreta a obra,e vice versa.Se fosse americano ou europeu,a maioria dos críticos brasileiros estaria em êxtase frente à sua obra.Triste complexo de vira-lata dos mesmos,que o artista está a milhares de anos luz de compartilhar.Mais inteligente é o público brasileiro,que sabe o que é bom ,e tem lotado sua exposição.

20
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 10:06link do post | comentar | ver comentários (9)

17
Abr 09
publicado por aquiagorasempre, às 23:20link do post | comentar | ver comentários (41)

Numa casinha branca,lá no Sítio do Picapau Amarelo moram duas velhas e uma menina...

Ainda hoje,abro as páginas das "Reinações de Narizinho,e me sinto quase do mesmo jeito que me sentia há tantos anos atrás,quando a partir desse livro comecei a ler a obra infanto-juvenil de Monteiro Lobato.O meu Monteiro Lobato passou pelos anos,pela infância,pela adolescência, pela vida adulta e agora me acompanha no início da maturidade.Esses livros,que tantas vezes foram como uma casa para mim,um lugar mesmo para morar.

Muitos anos depois de conhecer Monteiro Lobato,fui ler o belo conto de Clarice Lispector-"Felicidade Clandestina",onde a narradora conta sua aflição em não poder ler as "Reinações" e a tortura psicológica que lhe era infligida por uma menina,filha do dono de uma livraria,que todos os dias lhe dizia que emprestaria o livro e nunca o fazia.E a personagem se consumia em tristeza,porque as "Reinações"era um livro"para se morar dentro",para "viver com ele".

Durante os anos da infância,como todos os leitores de Lobato,sempre quis que o sítio de Dona Benta fosse bem aqui perto, e as aventuras de Emília,Narizinho,Pedrinho e do Visconde também acontecessem comigo e com meus amigos.

Monteiro Lobato,me parece,nunca foi devidamente elevado à grandeza que merece pela crítica.E ,acredito,sem nenhum exagero,que essa mesma crítica não dispõe ainda de uma apreciação e de uma homenagem à altura de seu talento.

Muito se falou e se fala sobre seu grande mérito de ser o introdutor,'o puxa-vagão' da literatura infanto-juvenil brasileira.Sem dúvida ele foi;mas a maestria de seu estilo,tão sedutor,sua imaginação poderosa,seu patriotismo sem patriotadas,sua fusão das culturas euro-afro-indígena(o que não é nada mais que a cultura brasileira),seu desprezo a um maniqueismo religioso estereotipado,enfim sua grandeza literária,ainda pairam sobre toda a literatura brasileira como um brisa doce e benfazeja.

Gostaria de fazer aqui uma pequena'arqueologia'literária de Lobato.Tentar evocar Monteiro Lobato como o criador de um mundo platônico,ideal,mas no qual,as contradições nunca estiveram ausentes.Assim divido o meu Monteiro Lobato em alguns personagens(não todos),lugares e livros que me falam ao coração.


Personagens:


Dona Benta-A avó mais que moderna:revolucionária.É o oposto do adulto opressor,dá limites mas também dá liberdade,de viver e de sonhar.Culta,ponderada,grande leitora,vive 'na roça',mas conhece desde Homero até Anatole France,dá aulas sobre a guerra do Peloponeso ou sobre as causas da Segunda Guerra Mundial.Tem encantado milhões de netos em potencial e também houve uma época em que escandalizou legiões de carolas,horrorizados com seu catecismo do progresso da humanidade pela educação e pela imaginação.Respeita os netos(incusive Emília)como pessoas em si mesmas,não tristes arremedos de adultos.A regente do sítio não é nem um pouco despótica,reverencia todos os rituais da democracia.É uma incentivadora de todas as aventuras dos netos.O mundo mágico em que vive é só uma outra realidade,para ela tão palpável como esta.É célebre o seu vestido de gorgorão amarelo do tempo do imperador.Ela e Tia Nastácia formam uma dupla dinâmica,sempre prontas para a próxima viagem à Grécia Antiga ou ao castelo do barão de Munchausen.Enfim,é uma senhora bastante sensata,se bem que tenha sentado nas garras do pássaro Roca.


Tia Nastácia-Lobato,como muitos outros escritores de sua época,poderia ter feito dela um pobre estereótipo da faz-tudo negra e analfabeta.Negra e analfabeta sim,mas literalmente a criadora de Emília e a amiga de D.Benta.Não imprescindível por ser a cozinheira dos sonhos mas por ser amada por todos.Emília,Pedrinho e o Visconde vão até o labirinto de Creta para libertá-la do minotauro,mas ela mesma derrota o monstro grego através do sabor de seus bolinhos.Embora muitas vezes o mundo lhe pareça estranho,não acha nada de diferente nas aventuras da turma do sítio.


Narizinho-Uma neta,não dos sonhos,mas de todas as avós.Adorável,'comum',birrenta,às vezes respondona,muitas vezes encantadora,não encarna nenhum dos eternos modelos das meninas comportadas.Tem ciúmes de Emília e ao mesmo tempo a adora.Admira e respeita o Visconde,não sem uma ponta de ironia,e é a grande amiga de seu primo Pedrinho,se bem que nem sempre estejam em concordância.Também não passa recibo para Dona Benta e Tia Nastácia.Uma menina que vive toda nova aventura como uma viagem de descoberta e aprendizado.E ainda tem o famoso nariz arrebitado e quase se casou com um príncipe-peixe.


Pedrinho-Todos os meninos estão encarnados em Pedrinho:o menino Lobato,eu,você.Pedrinho é uma espécie de menino tão universal quanto é 100% brasileiro.Vindo da cidade grande para o sítio da avó,para ele o Picapau Amarelo é o outro lado luminoso e muito mais risonho da vida.Sua infância,é como eu diria,desatenta,ao mesmo tempo irônica e varonil.É capaz de derrotar a poderosa Cuca e morrer de medo de vespas,de chorar e de contar bravatas.É um herói mirim picaresco,e num sítio comandado por mulheres,o elemento masculino que Lobato,surpreendentemente(dado à sua própria época)não sobrecarregou de heroísmos inúteis.


Emília-Sedutora,antipática,engenhosa,inteligentíssima,teimosa,autoritária e doce.Tudo ao mesmo tempo.Para mim não é 'macunaímica',como muitos dizem.É pós-macunaímica.Está muito além da imagem de um país retrógrado e comodista.O fato de ter sido feita por Tia Nastácia e de ter evoluído de boneca de pano a pessoa,mostra como Monteiro Lobato a quis dotar de características as mais diversas possíveis,num verdadeiro' mix literário'.Na verdade,Emília é quem comanda o sítio,porque é seu verdadeiro cérebro.Curiosa,quer ver para crer("comigo é ali na batata").É capaz de heroísmos,se angustia e às vezes quase se desespera.Uma das grandes personagens da Literatura Brasileira,não só da infanto-juvenil.Com Emilia,Lobato realmente subiu à altura dos grandes criadores.


Lugares:


O Sítio do Picapau Amarelo-A grande utopia platônica de Monteiro Lobato.Uma espécie de lugar ideal,psicológico,fora do tempo e do espaço como conhecemos.Um sitiosinho como muitos pelo Brasil afora,com sua casa singela,seu pomar,seu jardim,seus animais,mas também ,um laboratório dos ideais de igualdade,fraternidade e liberdade,tão caros ao escritor;uma bandeira que Lobato ,como poucos escritores brasileiros,carregou a vida inteira.

No sítio não existem as travas sociais da repressão psicológica bem-pensante,da religião sufocante ou do ser humano simplesmente atirado à existência.As grandes aventuras de seus habitantes são uma evocação da grande aventura do ser humano,das possibilidades imensas que todos temos dentro de nós.Um monumento à inteligência e à sensibilidade.


O Reino das Águas Claras/O País das Fábulas-O outro lado dos contos de Grimm ou dos maravilhosos contos de Andersen ou Perrault.Num amálgama literário que une as mais belas descrições da literatura infantil com anedotas 'nonsense' e irônicas,Monteiro Lobato cria sua versão brasileira do maravilhoso europeu,misturando Branca de Neve,a Bela adormecida com presonagens das noites árabes, com dezenas de personagens novos e hilários,como o Major Agarra e não larga mais,Miss Sardine,Dona Aranha e tantos outros.Na descrição desses mundos fantásticos,Lobato usa um estilo invejável,pontilhado de finas ironias aos rituais da vida social e uma crítica feroz à vida sem poesia e sem leme.Esses reinos são também uma antítese ao sítio:seus personagens chegam a ser um pouco caricatos e cansativos para Emília:nada como a casa da gente...


Livros:


Reinações de Narizinho-Um dos livros mais despretensiosos da literatura brasileira ,mas que se tornou um fenômeno e inaugurou uma era.Lido geração após geração,amado e cultuado por grandes escritores como Clarice Lispector,Ruth Rocha,Caio Fernando Abreu,entre vários outros,é das obras mais generosas de Monteiro Lobato.Sua desconstrução dos contos de fadas(numa época em que não existia esse conceito)é de uma perícia impressionante,assim como a irreverência com que tratou personagens tradicionais é inesquecível.A surra que Emilia dá na formiga má(La Fontaine tem que acudir a pobre coitada,lembram?)Um grande livro-brinquedo.


O Minotauro-Fico pensando que se Lobato escrevesse em inglês,já teria batido de longe 'O senhor do Anéis' e a série 'Harry Potter'.Mas quis o acaso que ele escrevesse num chamado 'país periférico' e na nossa bela língua portuguesa.

Já perdi as contas de quantas vezes reli 'O Minotauro'.Aqui,realmente Monteiro Lobato atinge a alta criação,a perfeita união de estilo,forma,conteúdo e expressão.As aventuras dos habitantes do sítio na Grécia arcaica e simultanealmente na época de Péricles,Aspásia e Sócrates(aqui meros coadjuvantes!)são um exemplo de sua maestria como escritor e de sua generosidade como pessoa.Onde leremos cenas como a visita de Dona Benta e Narizinho ao Partenon recém -terminado?Onde saborearemos cenas como a aventura de Emília,Pedrinho e do Visconde no labirinto de Creta?Seria difícil pensar nas palavras certas para descrever a tristeza de Tia Nastácia na'cozinha' do labirinto,a fritar bolinhos inumeráveis para o gordo minotauro("o trigo venceu a ferocidade do monstro de guampas.disse à Emília a Pítia de Delfos).Um livro essencial.


A Chave do Tamanho-A obra prima de Lobato.Um dos livros mais audaciosos,brilhantes e fantásticos(literalmente)da literatura infanto-juvenil de todos os tempos.A engenhosidade de Monteiro Lobato,em plena Segunda Guerra Mundial,de conceber uma chave que torna todas as pessoas do tamanho quase de um inseto,é impressionante.E aqui Emília brilha de fato,como a grande personagem.O livro é todo dela:um monólogo sobre o horror do mundo e como resistir a ele.Um apólogo sobre as relações sociais,a ganância e a crueldade versus o engenho,a inteligência e a piedade.A primeira parte com a saga de Emília miniaturizada,solta no 'mundo natural' com seus predadores à espreita é de uma densidade raríssima em livros infanto-juvenis.A cena da travessia do jardim,com suas descrições 'naturalísticas' e devaneios 'darwinianos' sobre o destino do homem,para mim é antológica.Um clássico.


O meu Monteiro Lobato é esse escritor brilhante,polêmico,corajoso e terno,que em uma palavra,levou a beleza,o companheirismo,e a grande literatura a tantas gerações de brasileiros.Fico triste que nossos amigos portugueses não o conheçam,que o mundo não o conheça.

Nós temos tido esse privilégio há quase um século.Vamos preservá-lo,continuar passando-o para as novas gerações.



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